As almas dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria! (Rubem Alves)
Você se foi, meu querido amigo Rubem Alves. E o meu mundo ficou triste, muito triste...
Chamo-o de amigo, embora não tenhamos nos conhecido em pessoa, mas uma tal comunhão de ideias e sentimentos só pode vir do reconhecimento que somos da "mesma tribo". Somos parceiros, os jovens diriam que somos "brothers"... Ah, sim, uso o presente porque a morte não desfaz a amizade, não é mesmo?
Deveria ter lhe escrito antes, quando essas linhas pudessem chegar a você, mas a timidez não me permitiu a tentativa de chegar mais perto, de dividirmos o mesmo espaço. Mas lhe escrever, mesmo que tardiamente, era imprescindível para mim.
Queria muito lhe dizer que são seus alguns dos textos mais significativos da minha vida: em Conversas com Quem Gosta de Ensinar, me descobri jequitibá; em Histórias para Quem Gosta de Ensinar, entendi que a Ciência tem seus hábitos alimentares e que o país dos dedos gordos está logo ali na esquina; em Coisas da Alma, conversamos eu e você sobre o inferno e a salvação da nossa alma; em Coisas que Dão Alegria, você me fez entender quanto pode sofrer um beija-flor que vive entre urubus; em Teologia do Cotidiano, você me contou um segredo: que a Barbie, na verdade, não é uma boneca, mas uma bruxa; em Coisas do Amor, compreendi que a vida é uma bifurcação em que ambos os caminhos são difíceis; em O Retorno e Terno, você falou para mim de relacionamentos que se jogam como o frescobol; em Se Eu Pudesse Viver Minha Vida Novamente, enfim, vimos juntos que é chegado o tempo da bendita inutilidade... Tantas coisas aprendi com você, meu amigo Rubem Alves.
Você escreveu um dia: "Quando eu morrer, minha memórias vão se perder. Mas não quero que se percam. Tenho de dá-las para alguém que tome conta delas. Aí me vem a aflição por escrever. Quando escrevo, estou lutando contra a morte. A morte das coisas que meu amor ajuntou e que vão se perder quando eu morrer."
Meu querido amigo, também escrevo essa carta para não deixar se perder toda beleza que seus textos me despertaram, tudo que aprendi com você. Obrigada por todo o seu carinho para comigo, para conosco, para com todos os seus leitores que puderam compartilhar de suas ideias, seus pensamentos, sua poesia.
Um comentário:
Realmente, amiga Stella, essas palavras não poderiam deixar de ser escritas... São de nos deixar sem fôlego e com um nó na garganta...
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