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| Praia do Pepê por Stella Montalvão |
Vejo crianças brincando na areia, fazendo castelos
ou dando gritinhos de prazer ao entrar na água gelada. Vejo corpos jovens como
já foi o meu, e corpos envelhecidos como será o meu um dia. Vejo pássaros e
homens-pássaros com seus parapentes deslizando na água.
Caminho pela praia e o sol aquece meu rosto. O céu
azul sem nuvens encontra-se com o mar também azul. Sinto meus pés na areia
molhada e a brisa marinha refresca.
Enquanto sinto a presença da natureza, viajo
dentro de mim, consciente do meu corpo como parte desse cenário.
Meu corpo. A materialização que me comporta em
espírito fragmentado.
Meu corpo em excesso. Construído para ser
presença, é hoje a representação da minha necessidade de me proteger do meu próprio
medo.
Sigo colocando meu prazer naquilo que como. Desloco a alegria para fora da minha experiência interna. Comendo, exercito um prazer
solitário, censurado e, por isso, tentador. Nesse processo, construo minha cápsula
de proteção que me mantém distante dos outros.
Assim, sou também pássaro, que arrepia suas penas
para iludir o inimigo, criando a ilusão de ser forte, aparentando ser maior do
que sou diante da ameaça de me descobrir frágil.
É minha capacidade de amar que me assusta. Dar-se a
conhecer é o perigo. E é nessa capa de excessos que me escondo, cada vez mais
densa.
Mas quem sou eu verdadeiramente?
Caminhando na praia, sinto que sou leve.
Meu corpo desajustado serve ao meu pequeno ego
assustado e perdido, que vive hoje com medo de sua própria sensibilidade, quando
deveria brilhar, flutuar, deslizar pelos caminhos por onde passo.
Sei que posso me alimentar de luz, de sol, de paz.
Sei que posso me alimentar dessa sensação poderosa
de ser quem eu sou.
Sei que posso amar.
Sei que posso brilhar!

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