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Praia do Pepê por Stella Montalvão |
Gaivotas voam sob o mar. Pombos caminham pela
praia, catando detritos. Sei que faço parte disso. Penso nos animais, na sua
existência tão diversa da nossa. Penso na nossa interdependência, nos nossos
caminhos entrelaçados.
Lembro-me dos beagles. Lembro-me dos ratinhos de
laboratório.
Vidas de que dispomos em prol dos nossos
interesses.
Temos esse direito?
Acredito que até a mais empedernida narcisista, às
voltas com seus produtos de beleza, sabe, no fundo, como é perverso o uso de
animais para testar cosméticos. Mesmo que nos recusemos a reconhecer como somos
arrogantes, a percepção de que é preciso proibir esse tipo de prática fica cada
vez mais forte.
No entanto, quando se fala de medicamentos, a
dúvida se instala. Será?
Eu acredito que vivemos uma contradição profunda.
Gastamos tempo e dinheiro para criarmos medicamentos para tratar doenças que
nós mesmos criamos.
Fumamos, bebemos, ingerimos uma infinidade de
produtos químicos cuja finalidade é despertar nossas sensações: aromatizantes, corantes
e outros venenos. Usamos pesticidas, e, em escala global, somos responsáveis
pelo envenenamento dos rios, pelo aquecimento global e outras mazelas.
Temos realmente o direito de impor às outras
espécies as experiências e testes para criar remédios para problemas que atraímos
com nosso estilo de vida?
Já não basta criarmos, em escala industrial, e
frequentemente de forma cruel, animais para nos alimentar e alimentar uma
indústria nada confiável em que hormônios, medicamentos, produtos químicos
diversos são adicionados ao que ingerimos? Se ainda comemos carne, não
deveríamos pelo menos manter uma postura respeitosa diante desse outro?
No plano simbólico, é também disso que nos fala a
expulsão do Jardim do Éden: da nossa incapacidade para nos sentirmos em
comunhão com o todo, com a natureza, com outros seres vivos.
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