domingo, 11 de maio de 2014

Gostei de NOÉ e não gostei de HOMEM-ARANHA 2

Assisti aos dois filmes no final de semana passado. Confesso que fui meio que de má-vontade VER “Noé”. Só fui ao “Noé” porque fui arrastada por um amigo que não queria ver o filme sozinho. Já ao “Homem-Aranha 2”, fui por curiosidade, já que não havia visto o primeiro do “reboot”, mas tinha gostado muito da primeira trilogia.
Surpreendentemente, gostei muito mais de “Noé”, do que do “Homem-Aranha 2”. É isso mesmo. Eu explico.
O que me atrai num filme? Histórias intrigantes, bem contadas num roteiro inteligente, utilizando-se de bons atores.


Assim, sendo bem sincera, esse “Homem-Aranha 2”, para mim, é um filme “teen”, turbinado por uma avalanche de efeitos especiais. No caso dos protagonistas Andrew Garfield (Homem-Aranha), Emma Stone (Gwen Stacy) e Dane DeHaan (Harry Osborn), as interpretações são bem regulares, sofríveis em alguns momentos. Sem querer ser saudosista, Tobey Maguire, Kirsten Dunst e James Franco apresentam interpretações bem mais convincentes nos mesmos papéis. Já quanto aos vilões, Jamie Foxx (Electro) segura o filme na maior parte do tempo e Paul Giamatti (Rhino) é totalmente desperdiçado, com uma interpretação apagada por conta do próprio roteiro, creio eu. O enredo, no que pese o fato de ser mais próximo dos quadrinhos (inclusive quanto ao destino da “mocinha”), o que pode satisfazer os fãs mais fervorosos, me pareceu mal desenvolvido pelo diretor Marc Webb (de “500 Dias com Ela”). Mesmo sendo um história basicamente de ação, o Homem-Aranha dos quadrinhos tem um lado muito interessante como personagem, suas contradições, seus conflitos internos, que poderiam ser mais bem explorados, mas que deram lugar a sequências de rasantes entre prédios e piadas fraquinhas como a do rosto sujo e a chaminé... Enfim, achei o filme dispensável.


E “Noé”? Primeiro, quero deixar claro que minha modesta análise não passa nem perto da questão de sua fidelidade ou não à Bíblia. É um filme, e como tal, pode desenvolver a história que quiser. “Noé” não é um filme bíblico. Sua “filiação” é muito mais próxima dos filmes-catástrofe (“Presságio”, “Twister”, “O Dia Depois de Amanhã”, por exemplo). É claro que se o diretor Darren Aronofsky (de “Cisne Negro” e “Réquiem Para Um Sonho”) tivesse chamado o filme de “Dilúvio” e trocado o nome de Noé para Joãozinho, talvez ele pudesse se poupar um pouco da ira que despertou em grupos religiosos pelo mundo ocidental afora. Mas talvez essa reação, já esperada, faça parte da propaganda. Vai saber...
Enfim, falando do filme “Noé”. Primeiro, Darren Aronofsky se utiliza de atores obviamente bem mais talentosos: Russell Crowe (Noé), Jennifer Connelly (Naameh), Emma Watson (Ila), Anthony Hopkins (Mathusalem), Nick Nolte (Samyaza) já são atores tarimbados. Logan Lerman (Ham) é conhecido pela interpretação bem convincente em “As Vantagens de Ser Invisível” (em que contracena com Emma Watson) e Douglas Booth (Shem) é o único dentre os protagonistas que está iniciando sua carreira. E todos estão muito bem nos papéis que representam.
Mas o que mais me interessou foi a forma como as contradições e conflitos do enredo criado por ele foram representados. A personagem interpretada por Ray Winstone, o chefe dos homens, faz algumas das perguntas mais interessantes do filme: Por que Deus renega sua criação, se o homem foi criado a sua semelhança? Por que esses homens que trazem o sinal de Caim têm seu destino traçado pelo pecado de seu ancestral? Por que matar a todos eles, mas salvar Noé e sua família? Noé não é também um homem? 
Já Noé traz outras questões complementares: Qual a sua verdadeira missão? Ele tem o direito de ser poupado? Deixar as pessoas morrerem é uma atitude digna? Por outro lado, não seria melhor para a criação, para o planeta, se simplesmente o homem deixasse de existir? O sacrifício dele e de sua família não deixaria o resto do planeta a salvo?
Nesse sentido, para mim, Noé deixa de ser apenas o “escolhido”, para ser um homem em profundidade. Ao mesmo tempo, aqueles que Deus considera indignos de continuar vivendo também ganham uma dimensão humana. Em tempo de polarização, em que quem comete um delito grave, hediondo, deixa de ser considerado um ser humano, sendo desumanizado nas cadeias, enquanto aqueles que se acham os “escolhidos” para fazer justiça acabam por agir de forma tão bárbara quanto aqueles a quem eles pretendem “justiçar”, essas questões me parecem bastante pertinentes.
Agora, podem jogar as pedras... :)