sábado, 1 de março de 2014

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO, 16 DIAS DE PRISÃO: DE SOLOMON NORTHUP A VINÍCIUS ROMÃO

Vinícius Romão antes da prisão
Bem, desde que começaram a surgir as notícias sobre a prisão do ator Vinícius Romão por um assalto a uma senhora na rua, próximo ao Hospital Pasteur, no Rio de Janeiro, fiquei chocada. A prisão dele é um verdadeiro circo dos horrores: ele foi preso a partir de um “reconhecimento” pela vítima, feito na rua. Sim, correspondia a seguinte descrição genérica: negro, alto, cabelo black-power. Ele não estava de posse de nenhum pertence dessa senhora. Foi preso e enviado a uma penitenciária, mantido numa cela com mais 15 detentos, sem direito a contato com a família, submetido às condições humilhantes, como o ritual de raspar os cabelos. Um rapaz formado em psicologia, ator, sem passagem pela polícia. E, pior, as instituições “competentes” levaram 16 dias para admitir seu erro e liberar o jovem, depois de uma intensa movimentação dos familiares e amigos, inclusive na mídia.
Vinícius Romão após a prisão
                   Já solto, essa semana Vinícius Romão foi ao programa “Encontro com Fátima Bernardes”. E lá eu vi Solomon Northup: um homem quebrado, sem brilho, marcado pela dor. Aquele que em 12 Anos de Escravidão, também é um negro livre, com estudos, violonista, sem passagem pela polícia, que é sequestrado, escravizado e submetido a condições humilhantes. Sua condição de homem instruído é uma maldição: é preciso “dobrá-lo”, “quebrar sua espinha”. Fazê-lo sentir-se, assumir-se como escravo. Assim como Vinícius precisa entender que é um “malfeitor”, um presidiário, um homem marcado pelo crime.

            Duas histórias reais. Solomon Northup era norte-americano e viveu no século 19. Vinícius Romão é brasileiro e vive no século 21. No entanto, ao ver o filme, vi Vinícius. Ao ver o programa na TV, vi Solomon. E ao sentir essas semelhanças no meu coração, fiquei triste. Profundamente triste.

Solomon Northup, interpretado por  Chiwetel Eliofor em 12 Anos de Escravidão
Histórias como as de Solomon não foram poucas. Como as de Vinícius Romão também não o são. Segundo relatório das Nações Unidas, 40% dos presos brasileiros é de presos provisórios e há um número assustador de detenções ilegais. Muitos desses detentos, inocentes, ficam com sequelas irreversíveis. Leia em Histórias que Assustam a ONU . 
Só desejo que o final dessas histórias sejam diferentes. Solomon Northup tentou levar seus sequestradores para um tribunal, mas não conseguiu, pois negros não podiam depor contra brancos. Espero que os responsáveis pela prisão arbitrária de Vinícius Romão respondam por seus atos junto à justiça.