domingo, 17 de outubro de 2010

Que Brasil queremos de volta? de Márcia Denser

15/10/2010 - 07h00
Que Brasil queremos de volta?
"A receita é misturar a exploração dos preconceitos da classe média com a ingênua religiosidade das classes menos favorecidas. E o país, enquanto nação, que se dane!"

Nem a sobrevivência mais mesquinha e pedestre justificaria para mim silenciar diante do rumo definitivamente fascista da candidatura Serra, que, neste segundo turno, é vastamente apoiado por tudo aquilo que não só representa o mais absoluto retrocesso, como o oportunismo, o atraso, a intolerância cega e irresponsável, tais são as hordas invocadas como “esteios” dessa campanha, como Opus Dei, TFP e Carismáticos (sobretudo os de Sampa). Um eventual governo Serra significaria para o Brasil um novo mergulho nas trevas com direito à revenda da “alma nacional”, lembrando o mote de Aloysio Biondi a respeito das privatizações realizadas no governo FHC e implementadas pelo então ministro José Serra.

Quer dizer, essa direita demotucana, no mesmo pacote em que criminaliza o aborto (“Dilma mata criancinhas!”) e condena a união entre homossexuais, já embute a defesa aberta das privatizações – a começar pela Petrobras –, a abolição do Bolsa Família, e, no intervalo, promete mundos & fundos (que obviamente não vai cumprir), contemplando assim de “a” a “z” a estéril agenda demotucana: para os mais ricos, o incentivo ao ódio; aos mais pobres, a manutenção do medo.

Nada mal.

A receita é misturar a exploração dos preconceitos da classe média com a ingênua religiosidade das classes menos favorecidas. E o país, enquanto nação, que se dane! O fato é que Serra hoje configura o oportunismo mais deslavado da moderna história da política brasileira.

Esse mesmo Serra que responde com evasivas e foge como o diabo da cruz das comparações entre os governos Lula e FHC. Para Gilson Caroni, da Carta Maior, ficou claro, no debate da Band, que Serra promete coisas sem base e silencia sobre como vai cumpri-las. Ora, o eleitor precisa de algo mais concreto do que boatos hipócritas, promessas ocas e ameaças medievalóides (a exemplo das fogueiras do inferno e do sorriso privatista de Papai Noel), tanto para pagar suas contas no fim do mês como empenhar o futuro de seus filhos, para ser convencido a votar no ex-governador que paga os piores salários do Brasil para professores e policiais.

Ao eleitor esclarecido basta um pouco de bom-senso para compreender o perigo que representam religiosos fundamentalistas “pontificando” na administração pública, e, uma vez que Serra se comprometeu com eles, se eleito, o que lhes dará em troca? É uma excelente questão a ser colocada nos próximos debates. Com a total retirada da ajuda do Estado, como se prevê numa hipotética gestão Serra, os poderes conferidos a seitas & quejandos, aliados a uma polícia medíocre e corrupta, acabariam sancionando por completo a ação de milicianos e traficantes. O que faz soar, no mínimo, ridícula a proposta tucana de criação de um Ministério da Segurança. O quadro final seria dum Brasil-Colômbia de pesadelo.

É esse o Brasil que queremos?

Rodrigo Vianna, do blog O Escrevinhador, é categórico: “Pautar o segundo turno com uma temática religiosa é um atraso gigantesco para o Brasil. É evidente que essa temática religiosa não é o que interessa para o país, mas se Serra escolheu o obscurantismo, é preciso mostrar isso à população. O círculo da direita se fecha: ela tem algumas igrejas, a velha mídia e a prática da intolerância. Há espaço para uma centro-direita civilizada no Brasil? Claro. Mas essa direita que avança com Serra não merece respeito. Merece ser combatida. Do lado de Serra, estará muita gente. Mas do outro lado ficará o que há de civilizado nesse nosso país”.

A ideologia da direita é o medo, escreve Simone de Beauvoir. E o ódio, acrescento eu, seu parceiro ideal. Por que o país está sendo dilacerado por ambos.

Num artigo quase nostálgico, "A psicologia de massa do fascismo à brasileira", Luís Nassif toca alguns pontos cruciais:

“O país passa por profundos processos de transformação: pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo, reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país.”

O eterno terrorismo midiático já não estava surtindo efeito. Na falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou FHC, seguido por seu discípulo José Serra, passou a apostar tudo na radicalização. Nassif observa:

“Nestas eleições, o clima que envolve certas camadas da sociedade é o laboratório mais completo dum fascismo de massa à brasileira – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade. Em São Paulo, esse clima é generalizado. Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações”.
Conseguindo expressar algo que há muito eu mesma tenho sentido na pele, Nassif dá seu depoimento:

“Minhas filhas menores frequentam uma escola liberal, tolerante em todos os níveis. Mas os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do mesmo colégio me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina. Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto e foi cercada por colegas indignados. No domingo, fui visitar uma tia na Vila Maria: o mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador.”
Ele arrisca um diagnóstico da atual crise política e social, que divide e maltrata a nação como um todo, responsabilizando sobretudo a mídia hegemônica por este recorrente estado deplorável em que lança o país, tanto no presente, como no passado. A questão é que, fundamentada no ódio, um trabalho da mídia de massa a martelar diariamente inverdades obtusas, terá desdobramentos imprevisíveis que transcendem o processo eleitoral:

“A irresponsabilidade da mídia e dum candidato com ambição desmedida conseguiu inocular na sociedade brasileira uma intolerância que demonstra exemplarmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira. Explica também as raízes do subdesenvolvimento, a resistência histórica a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa, é a escassez de homens públicos com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.”
Dilacerado entre o ódio e o medo, ao fim e ao cabo, resta a pergunta: é esse Brasil que queremos de volta?

*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango Fantasma (1977), O Animal dos Motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A Ponte das Estrelas (1990),(2002 - Esgotado), Diana Caçadora/Tango Fantasma (2003,Ateliê Editorial, reedição), Caim (Record, 2006), Toda Prosa II - Obra Escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suiça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português). Dois de seus contos - O Vampiro da Alameda Casabranca e Hell's Angel - foram incluídos nos 100 Melhores Contos Brasileiros do Século, sendo que Hell's Angel está também entre os 100 Melhores Contos Eróticos Universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUCSP, é pesquisadora de literatura, jornalista e curadora de Literatura da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo. Toda Prosa

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Weslin Roriz: chegamos ao fundo do poço!

Reproduzindo excelente texto recebido por e-mail.

Weslian, 1m70 de altura, 76kg de peso e 67 anos, é a faceta sem graça, a cara do escárnio, o lado mais debochado a que chegou a política em Brasília, a capital de 190 milhões de brasileiros, supostamente o centro mais esclarecido de uma multidão de 135 milhões de eleitores.

 
Da família Roriz, grife de um clã político que governou o Distrito Federal em quatro mandatos, num total de 14 anos, Weslian fez sua retumbante e tardia estréia nas eleições de 2010 na noite de terça-feira (28), no debate da Rede Globo com os candidatos a governador, quando faltava menos de uma semana para o pleito de 3 de outubro.

Weslian entrou no jogo eleitoral pela porta dos fundos: foi apontada na sexta-feira (24) pelo marido, o ex-governador Joaquim Roriz, que na véspera viu o Supremo Tribunal Federal empacar (5 votos contra 5) no julgamento em que ele tentava escapar dos efeitos sanitários da Lei da Ficha Limpa, que cassou Roriz por envolvimento e renúncia em um escândalo de corrupção.

Com o cálculo político da esperteza, Roriz imaginou enganar a lei e iludir os eleitores trocando seis por meia dúzia. Renunciou preventivamente e botou no lugar a mulher, dona Weslian, uma simplória dona de casa, companheira de 50 anos de casamento e dedicada a obras de cunho social e benemerente. Assim, mantinha o nome Roriz na tela de votação e o número da coligação, o que reviveu o mote de um antigo seriado de TV: o ‘Casal 20’.

A frieza de carrasco de Roriz ficou evidente no debate da Globo, quando expôs a mulher a um dos mais sórdidos espetáculos de auto-imolação já encenados na política brasileira.
Weslian, coitada, surgiu no estúdio, patética e apatetada, tentando interpretar o papel que o marido lhe empurrou, goela abaixo, exibindo toda a fragilidade de um projeto político esfacelado pelo advento da Lei da Ficha Limpa. Honrada e despreparada, Weslian tropeçava na gramática, no raciocínio, no noviciado e na improvisação, trocando perguntas, confundindo candidatos e espantando a grande maioria dos 1,8 milhão de eleitores da capital brasileira.

Não soube nem mesmo administrar as dezenas de folhas, perguntas e respostas preparadas pela assessoria de Roriz, perdendo minutos preciosos tentando localizar a ‘cola’ salvadora. Não conseguiu nem mesmo usar, na plenitude, o tempo precioso reservado às perguntas e respostas. Não se fazia entender na hora de perguntar, não conseguia compreender a questão na hora de responder. Ao tentar responder uma pergunta sobre ‘transporte público’, dona Weslian lembrou que o candidato do PT, ex-comunista, não acreditava em Deus e devolveu com uma pertinente questão: “O senhor é contra o aborto?”.

Foi uma das cenas mais constrangedoras e pungentes de toda a campanha eleitoral de 2010, em qualquer quadrante do Brasil.
O desamparo e o abandono de dona Weslian, jogado às feras da política pelo marido impiedoso e insensível, desatou uma imprevista corrente de piedade para com a inesperada candidata, filha de um rico fazendeiro de origem libanesa que pastoreava o cerrado do Planalto no quadriláteiro que, anos depois, JK, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer demarcariam para encravar a futura capital brasileira. Misericordiosos, os três candidatos adversários – do PT, PSOL e PV – fizeram perguntas entre si, poupando a criatura de Roriz, que tropeçava em seus papéis, em suas frases, em suas idéias inacabadas.

Weslian, cristã e católica fervorosa, invoca sempre Deus e Nossa Senhora, lembrando que acompanhou de perto a vitoriosa carreira do marido. “Ele sabe administrar uma fazenda como ninguém”, confessou no debate, fazendo uma involuntária metáfora sobre o estilo que o Casal 20 agora evoca nos últimos momentos do programa eleitoral de rádio e TV, com seu lema de campanha: “Weslian vai trazer de volta o jeito Roriz de governar”.
Mais do que a fraude explicitada pela manobra esperta do marido, Weslian encarnava, no estúdio refrigerado da Globo, o personagem ridículo e subalterno que joga no chão a política brasiliense. Uma proeza nada desprezível para uma cidade que já viu desfilar figuras inusitadas, folclóricas, divertidas ou lamentáveis como Fernando Collor, Cacique Juruna, Severino Cavalcanti, Paulo Maluf, Clodovil, Roberto Jefferson, Agnaldo Timóteo, José Roberto Arruda e o próprio marido de Weslian, o implacável Joaquim Roriz.

Não existem evidências de que Joaquim Roriz inveje o quociente intelectual ou a vestimenta colorida de ‘Tiririca’. Mas a desastrosa aparição de Weslian na corrida eleitoral e no debate da Globo reforçam a suspeita de que Joaquim Roriz vê os habitantes de Brasília com o nariz vermelho de palhaços, como aqueles que acreditam que “a política, pior do que está, não fica”. Com a ajuda do ex-governador, sabe-se, sempre poderá ficar.

No domingo, dia 31/10, os eleitores conscientes da capital brasileira terão a chance de devolver esta piada sem graça, cravando seus votos em quem merece.

Não precisam nem eleger o macaco ou o rinoceronte. Basta repudiar a fraude.

Luiz Cláudio Cunha é jornalista, eleitor em Brasília e não vota em palhaço

domingo, 10 de outubro de 2010

Refletindo sobre FHC e Lula...

Recebi esse mateiral por e-mail e compartilho com vocês. Vivi os tempos de FHC e esses dados são apenas alguns dos dados comparativos que poderiam ser destacados para lembrar os tempos difíceis que vivemos sob a égide do PSDB.
Assim, em tempos de discussões fundadas no obscurantismo, segue um gráfico com informações que são relevantes para o país.